15.6.2022

O blend como soft power corporativo

Queremos redefinir nossa sociedade e quebrar essa era de hiperfragmentação onde todas as tribos têm espaços definidos

Escrito por
Nadia Léauté
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Pessoas caminhando em uma estação de trem movimentada, em uma foto preto e branco.
Foto:
Karen Lau/ Unsplash

Meu nome é Nadia Léauté. Sou francesa, tenho 40 anos e cresci em Paris. Minha missão é criar pontes, conectar quem nunca teria sido conectado, colocar a luz sobre talentos emergentes, tornando nossa sociedade mais plural, hackeando os muros existentes para permitir que todos mostrem seu potencial.

Por mais de dez anos ocupei importantes cargos de marketing em diversas multinacionais, como L’Oreal, Pernod Ricard e Rolex. Entretanto, algo me chamou a atenção durante todos esses anos: a falta de blend, de mistura. No Brasil, cada tribo fica no seu canto, seja na vida pessoal ou na profissional. Sentia falta do blend das cozinhas parisienses, das festanças tradicionais do final dos anos 90, quando Laurent Garnier tocava no Rex e tudo acontecia nos apartamentos. 

Lá tinha um blend extraordinário de intelectuais, excêntricos, pessoas da periferia aos bairros mais nobres na cidade, onde todo mundo debatia junto. O que importava não era o dinheiro, mas a visão que você tinha para sociedade. Cresci nesse blend musical e artístico, pulando de museu em museu, aproveitando o final das tardes de verão para escutar Drum & Bass e Reggae nas peniches de Paris.

Desse modo, no final de 2019 decidi que era a hora da virada. Criei o Blend Inspire, uma plataforma multicultural que fomenta conexões que não teriam existido na vida real. 

Proporcionamos oportunidades para talentos nada óbvios do mundo todo que vão da música à literatura e estão espalhados entre Brasil, França, Reino Unido e Estados Unidos. O intuito é redefinir a maneira como as pessoas se conectam, juntando perfis distintos e distanciados em uma mesma comunidade, criando pontes entre periferia e bairros nobres, empreendedores sociais e CEOs de empresas tradicionais.

No Blend, possuímos um braço de consultoria estratégica focada na curadoria de talentos em cultura, impacto social e lifestyle que desenvolve, produz e executa projetos únicos para empresas. Mapeamos talentos em linha com valores de cada empresa e desenvolvemos projetos sob medida para fidelizar clientes ou equipes. Um clube cultural de networking para você, sua empresa e seu time se conectarem com mais de 150 talentos do mundo da arte, da música, do design e do impacto social que irão inspirar e engajar todos os envolvidos.

Nossa curadoria de talentos é única e, dificilmente, uma empresa teria acesso a um mailing tão completo e diverso. Além do matchmaking feito com esses talentos, desenvolvemos ações únicas de colaboração com empresas, como a criação de uma galeria virtual de NFT para a Intel, o desenvolvimento de uma horta orgânica em um terreno baldio de uma comunidade da periferia paulistana para a Nestlé, ou experiências “haute culture”. 

Recentemente, produzimos a primeira edição do festival de Grafite Transformadores, no Jardim Santa Luzia, em Embu, na grande São Paulo, um blend de dança, street art, skate e música que fez brilhar os olhos da criançada que enxergou outro futuro. Foi uma ação incrível de nosso coletivo para deixar um legado para sociedade e mostrar a importância de olhar a periferia de outra forma. 

O blend quer ser um soft power, redefinir nossa sociedade, quebrar essa era de hiperfragmentação onde todas as tribos têm espaços definidos. Almejamos uma era blended em termos de raça, cor, disciplinas, onde arte rime avec culinária ou blockchain, onde um CEO de invest banking se conecta com artistas emergentes do Grajaú. Porque é só se misturando, se colocando no lugar do outro, que teremos mais empatia nessa sociedade, melhor entendimento do outro e assim soluções mais apropriadas especialmente no eixo diversidade e sustentabilidade. No futuro, Blend desenvolverá universidades para empoderar esses talentos e além disso teremos um fundo de impacto social para empoderar financeiramente todos e todas que estão mudando esse mundo em termos social e ambiental.

Acredito na importância dessa miscelânea cultural porque eu vi acontecer em Paris. Nesse blend de cultura, de raças, de gêneros é que surgia o melhor da arte, da literatura, até da economia, das decisões, da vida. E eu acredito que frente aos desafios que temos hoje, em termos ambientais, diversidade, retenção de funcionários, ressignificação do lugar físico do trabalho, as empresas precisam oxigenar seu networking

Eu sigo muito o Ben Horowitz, uma das referências da Silicon Valley, e ele fala que, para construir a cultura de uma empresa, você precisa trazer pessoas que influenciam a cultura da sociedade. Ele mesmo trouxe Nas e Quincy Jones para a empresa dele. Assim, quando trazemos o artista multidisciplinar Rimon Guimarães para a Nestlé, é isto que fazemos: estamos construindo cultura. Com ações orquestradas pelo nosso bureau de soluções criativas e experiências especiais, demonstramos que arte e música geram ligações emocionais que não acontecem no ambiente corporativo.

E nessa era pós-pandêmica as empresas precisam converter o lugar de trabalho num lugar criador de cultura, de valor agregado. O último número da Harvard Business Review, por exemplo, explica que, frente à Great Resignation, isto é, a essa rejeição das pessoas de voltarem para o trabalho, a única saída para as corporações é dar um valor agregado, entregar propósito, se posicionar frente a temas-chave para a sociedade ou para o meio ambiente 

Muito além da ferramenta de salário, o que vai reter a GenZ, os millennials, é a maneira como a empresa se posiciona. Acabou a era dos 80/90s em que você só podia vender sua sopa comercial. Hoje não dá mais para as marcas só olharem para elas mesmas. Seja dentro ou fora, elas precisam fazer o walk the talk dos seus compromissos e mostrar como elas contribuem de fato para a sociedade. Não adianta só ter um site bem feito ou manifestos aspiracionais, é preciso deixar isso muito claro e tangível para stakeholders internos ou externos. 

Por exemplo, dentro das empresas, ajudamos na infusão da cultura. Brinco que cultura é como um chá, ou seja, precisa ser infusionada o tempo inteiro, por isso criamos vivências bimensais em que levamos talentos da empresa e talentos da rede do Blend para contar histórias reais que tangibilizam o tipo de comportamento que a empresa precisa ver sendo executado. 

Ben Horowitz também fala que cultura é a maneira como as pessoas tomam decisões e se relacionam enquanto a liderança não está fazendo isso. Para um millennial, ver uma figura de um coach de 60 anos explicar o que é o valor colaboração não é mais aspiracional para ninguém; agora, ouvir uma referência do street art como Flipon contar como fez collabs com artistas de diversos países é muito mais tangível para exercitar o valor colaboração do que assistir a uma apresentação de slides em Times New Roman enviada pelo departamento de RH que ninguém vai ler. Através de nossos talentos, deixamos o mundo corporativo mais sexy, trazendo para dentro das empresas talentos de outros universos e realizando uma oxigenação essencial para sobrevivência do mundo corporativo. 

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Nadia Léauté
Nadia Léauté
Cresceu em Paris, em meio a um blend extraordinário de pessoas. Deixou a carreira corporativa em multinacionais para empreender.
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