13.3.2024

Pesca predatória fragiliza população de tubarões em Arraial do Cabo, e captura cai mais de 70% em sessenta anos

Apesar da queda no número de capturas, pescadores relataram a captura de seis espécies de tubarão na região, todas ameaçadas de extinção

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O tubarão-barriga-dágua (Carcharhinus plumbeus) em um fundo de oceano azul
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Guy Marcovaldi/ Projeto Tamar
O tubarão-barriga-dágua (Carcharhinus plumbeus) teve declínio significativo nas capturas em Arraial do Cabo, no RJ, devido à sobrepesca

Nos últimos 60 anos, houve uma queda significativa no número de tubarões capturados ao longo da costa de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. Sem acesso a áreas de proteção, os indivíduos ficaram expostos à pesca predatória durante o século passado e como resultado, passaram a ser menos abundantes nos antigos locais de captura a partir de 2006. Portanto, apesar do aumento das atividades pesqueiras na região, pescadores da região relatam uma redução de 75% na captura de espécies destes animais neste período.

Os dados são de estudo das Universidades Federais Fluminense (UFF), de Santa Maria (UFSM) e do Oeste do Pará (UFOPA) publicado na revista “Neotropical Ichthyology” na sexta (8) e trazem informações sobre a população desses animais na costa fluminense.

Os pesquisadores entrevistaram, entre julho de 2018 e 2019, 155 pescadores com experiência de pesca de três até 64 anos na região de Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, para investigar mudanças no número e na distribuição espacial dos tubarões nesta região. As entrevistas abordaram a época de reprodução, os comportamentos alimentares, a quantidade de capturas ao longo do tempo e outras características das espécies de tubarões. Os dados foram divididos em dois grupos: antes e depois de 2006. Neste ano, houve o fechamento da Companhia Nacional de Álcalis, em Arraial do Cabo, o que fez com que a pesca artesanal voltasse a se tornar a principal fonte econômica do município.

O artigo destaca que cerca de 2 mil indivíduos dessas espécies foram capturados com rede de praia entre 1979 e 2005. De 2006 a 2019, o número de tubarões capturados caiu para 500, ou seja, 75% a menos do que no período anterior. O estudo ressalta que a sobrepesca ao longo dos anos fez com que os animais se afastassem da costa. Após 2006, quando novos locais de pesca passaram a ser explorados, as capturas desses animais passaram a se concentrar em locais mais distantes.

“Os pescadores relataram seis espécies de tubarões, todas categorizadas como ameaçadas segundo listas nacionais e globais, como a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza”, explica Carine Fogliarini, líder do estudo e pesquisadora da UFSM. Os tubarões mais capturados foram o tubarão-galha-preta, o tubarão-anequim e o tubarão-barriga-dágua. Nas últimas seis décadas, as capturas do tubarão-galha-preta foram marcadas por uma queda de mais de 70% em um dos locais de pesca próximo a costa. Em geral, a localização espacial dos locais de pesca de tubarões na costa cabista também mudou, segundo relatam os pesquisadores.

A região de Arraial do Cabo tem uma reserva extrativista classificada como unidade de conservação de uso sustentável. Criada em 1997 para proteger recursos naturais e direitos de pescadores locais, a Reserva Extrativista Marinha do Arraial do Cabo carece de zonas de proibição de pesca definidas. Assim, a gestão da pesca e a fiscalização da captura de espécies ameaçadas e protegidas é insuficiente, segundo Fogliarini. “A falta de áreas de refúgio ou berçários contribui para a vulnerabilidade das espécies marinhas diante da pesca intensa”, completa.

Os resultados do estudo apontam para a necessidade de políticas de proteção de ecossistemas mais eficazes, ampliando o envolvimento das comunidades locais. A pesquisadora defende a promoção do turismo sustentável, com uma gestão efetiva da pesca, em locais como Arraial do Cabo. “Um tubarão vivo vale muito mais do que um animal morto onde o turismo para ver esses animais existe. Vários países proibiram a pesca de tubarões devido ao risco de colapso das espécies e à importância desses animais para o equilíbrio das cadeias alimentares”.

A equipe de pesquisa quer contribuir para frear ou reverter o declínio populacional de tubarões na costa brasileira, o que pode ser feito por meio do monitoramento de pescarias, campanhas educativas para conscientização e redução do esforço de pesca com abertura de novas possibilidades de geração de renda para os pescadores. “Não adianta apenas proibir a pesca, pois os pescadores precisam sustentar suas famílias. Eles necessitam ter alternativas de geração de renda na pesca ou em outras atividades que sejam mais sustentáveis”, finaliza a autora.

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