21.3.2024

A chegada de La Niña: fenômeno traz impactos econômicos e sociais após período marcado por El Niño

Esfriamento das águas do Pacífico deve gerar secas no Sul e queda de temperatura no verão nordestino

Escrito por
Sabrina Brito
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Fotografia da paisagem de um campo verde sob um céu nublado
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NOAA/ Unsplash
A La Niña costuma aumentar a frequência de chuvas na região norte, em especial na Amazônia

O fenômeno climático El Niño afetou profundamente o clima a nível mundial desde a metade de 2023 até o começo de 2024. No mundo, foram registradas temperaturas mais altas, a ocorrência de secas e até mesmo enchentes em diversos locais – e o Brasil não foi exceção. Agora, segundo nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), há 90% de probabilidade de a La Niña substituir o El Niño no segundo semestre do ano, causando impactos no Brasil.

“Todo esse cenário se deve a anomalias nas águas do oceano”, elabora o mestre em meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas, Bruno Kabke Bainy. “Essas situações ocorrem quando a atmosfera, que é muito importante para o clima, traz novos ventos, provocando mudanças na temperatura da água.”

A La Niña acontece, basicamente, quando as águas do Oceano Pacífico ficam mais frias do que normalmente são. Isso se deve à existência de ventos alísios, que sopram do Leste para o Oeste e empurram as águas, formando uma espécie de coluna que traz correntes frias para a região.

Esse fenômeno ocorre naturalmente, mas a La Niña intensifica o cenário. Trata-se de uma espécie de oposto do El Niño, sendo este responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. Ambos os fenômenos podem ocasionar secas e chuvas torrenciais, embora em lugares bastante diferentes do planeta.

Como consequência da La Niña, diversas mudanças são vistas nas manifestações climáticas. No Brasil, por exemplo, ela costuma aumentar a frequência de chuvas na região norte, em especial na Amazônia, influenciando o fluxo de rios da área. Já no Sul, esperam-se secas mais recorrentes. Além disso, no Nordeste e no centro-oeste, as temperaturas no verão devem cair, subindo simultaneamente no Sudeste.

No restante do mundo, espera-se: aumentos da frequência de chuvas no sudeste asiático e no norte da Austrália; secas no sul dos Estados Unidos; aumento da atividade de ciclones tropicais no Pacífico Ocidental; mudanças nos padrões de temperatura global, com tendência a temperaturas mais baixas em diversos locais.

Na América Latina, a La Niña traz secas também para o sul da Argentina, do Uruguai e Paraguai, o que tem o poder de afetar negativamente a agricultura, reduzindo as safras e prejudicando a segurança alimentar.

Há alguns aspectos com o que se preocupar nesse cenário. Em 2020, foi durante uma La Niña que o Pantanal passou pelos piores incêndios de toda sua história (embora, sob o El Niño, o bioma ainda sofra com calor e secas extremos). Por sua vez, em outras regiões do país, a seca pode ter impactos negativos na agricultura. 

“Para a agricultura do Brasil, a importância do fenômeno La Niña está principalmente relacionada às condições climáticas que ele pode desencadear. Ela pode afetar diretamente a produção agrícola, especialmente de culturas sensíveis à falta de água, como soja, milho e café”, afirma o professor do curso de agronomia da Universidade Católica de Brasília, Éder Stolben Moscon.

“Além disso, a La Niña está associada a um aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas, chuvas intensas e tempestades. Esses eventos podem causar danos às plantações, reduzir a produtividade e aumentar os custos de produção para os agricultores”, completou.

De acordo com o especialista, diante dos desafios apresentados, os agricultores brasileiros precisam estar preparados para lidar com condições climáticas adversas. Isso pode envolver o uso de técnicas de conservação de água, sistemas de irrigação eficientes, a escolha de culturas mais resistentes ao estresse hídrico e o monitoramento constante das condições meteorológicas para ajustar o manejo das lavouras.

É importante destacar que, para além dos efeitos eminentemente econômicos da La Niña, existe também a possibilidade de impactos sociais. Um exemplo é o fato de que as chuvas mais intensas em determinadas regiões podem levar a danos em casas, estabelecimentos e outras infraestruturas, potencialmente desalojando pessoas ou até mesmo colocando suas vidas em risco.

Ainda que se trate de sistemas que geram grande preocupação pela forma que impactam o clima, não estamos falando de uma novidade climática. “Tanto o El Niño quanto a La Niña são sistemas de variabilidade climatológica que existem há muito tempo. Portanto, sua ocorrência tem uma climatologia muito bem definida, com dados apontando sua existência desde 1500”, explica o físico e doutor em meteorologia, Tércio Ambrizzi. “Ainda assim, é muito importante conhecer esses fenômenos para entender e se preparar para os sinais que eles podem nos dar.”.

Independentemente do tempo há que ocorrem, esses fenômenos ainda não são muito bem administrados por governos de diferentes países. Segundo Moscon, é importante que comunidades, indivíduos e órgãos públicos estejam preparados para lidar com os impactos da La Niña, sempre focados na adoção de medidas de adaptação climática e mitigação de seus efeitos, com o objetivo de reduzir os danos causados por eventos climáticos extremos. 

Para que estejamos prontos para a chegada da La Niña, é necessária a implementação de diversas medidas, tanto no âmbito econômico quanto no social. Se isso não ocorrer, muitas serão as consequências – as quais podem desde pesar no bolso do consumidor até influenciar diretamente o seu bem-estar.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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