6.3.2024

Nova cadeia alimentar com presença de águas-vivas é descoberta no Ártico

Com o aquecimento do mar, espécies de águas-vivas têm migrado para o Ártico, provocando mudanças na dinâmica alimentar

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Sabrina Brito
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Recentemente, com o aumento das temperaturas na Terra, foi elevada também a temperatura média das águas oceânicas. Consequentemente, nos últimos anos, a água mais morna do Oceano Atlântico tem penetrado no Ártico europeu. Nesse novo contexto, algumas espécies terão vantagens com o aumento das temperaturas. É o caso das águas-vivas, segundo apontou novo estudo publicado no periódico científico Frontiers in Marine Science.

Sob essa nova influência está o arquipélago norueguês de Svalbard, onde a temperatura da água entre os meses de novembro e fevereiro está crescendo cerca de 2ºC a cada década. Essa mudança pode levar a diversas alterações na vida marinha, já que leva espécies típicas de águas mais mornas a se movimentarem para o Ártico juntamente com a água cada vez mais quente. Entre essas espécies migrantes estão alguns tipos de água-viva.

A presença desses animais nas águas árticas seria especialmente interessante para os animais que delas se alimentam, como algumas espécies de invertebrados marinhos e peixes. Durante os meses de novembro a fevereiro, quando o frio é mais intenso, fontes de comida são mais raras – o que faria da existência de novos tipos de alimento especialmente interessante para esses animais.

Para chegar a essas conclusões, os cientistas envolvidos na pesquisa analisaram os conteúdos estomacais de diversas espécies de anfípodes, um tipo de crustáceo. Ao longo de um mês, durante essa época do ano, foram coletadas amostras de quatro espécies diferentes. Como resultado, os pesquisadores concluíram que, de fato, as recém-chegadas águas-vivas podem integrar parte importante da dieta dos anfípodes. Ainda falta checar, porém, se a alimentação baseada em águas-vivas só se aplica a essa época do ano, em que o suprimento de comida é limitado.

O método utilizado pelos cientistas é bastante recente e pode detectar pequenos fragmentos de genes animais no estômago de determinados seres vivos. Então, os pesquisadores comparam os fragmentos coletados com referências retiradas de bancos de dados para identificar as espécies que serviram de presa para o animal analisado.

Assim, pela primeira vez, comprovou-se que esses anfípodes realmente se alimentam dos restos de águas-vivas – algo que só havia sido demonstrado previamente em ambientes experimentais. Até agora, havia sido pressuposto que o valor nutricional desses animais seria muito baixo, mas poucas espécies e poucos tecidos foram investigados até o momento. 

O estudo torna-se especialmente interessante quando se considera que o aumento das temperaturas das águas oceânicas deve continuar, levando-se em conta o aquecimento global. Dessa forma, poderia ser inferido que a questão da alimentação baseada em águas-vivas será cada vez mais patente e comum no Ártico, aumentando a importância da discussão acerca do assunto.

Importante mencionar que águas-vivas são animais especialmente resistentes. Neste ano, foi descoberta uma espécie do animal encontrada a mais de 800 metros de profundidade, apontando para a sua capacidade de habitar ambientes hostis. Somadas às espécies que estão migrando para as águas árticas, elas apontam para a possibilidade de águas-vivas sobreviverem mesmo nas mais difíceis condições e de perseverarem mesmo sob o clímax do aquecimento global.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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