1.11.2023

Morte de botos na Amazônia acende alerta sobre efeitos da mudança do clima para a conservação das espécies

Nos últimos meses, a região passou por uma seca histórica causada pelo aquecimento anormal das águas

Escrito por
Luana Neves
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Imagem de grupo de pessoas trabalhando em um animal morto.
Foto:
Miguel Monteiro/ Instituto Mamirauá
A temperatura da água chegou a bater 39,1°C: foram registradas 70 carcaças de botos, além de centenas de peixes mortos.

Desde o final de setembro, 178 carcaças de botos foram encontradas no Amazonas, segundo a ONG WWF-Brasil. Os animais mortos estavam nos lagos Tefé e Coari, no interior do estado. 

Nos últimos meses, a região passa por uma seca histórica por conta do aquecimento anormal das águas. A alteração é agravada pelo El Niño, fenômeno que aqueceu as águas do Oceano Pacífico e intensificou a estiagem na região. De acordo com a Defesa Civil, quase 97% dos municípios do Amazonas estão em estado de emergência.

Em nota, a oceanógrafa Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), afirmou que a situação tende a piorar: “secas e cheias extremas vão acontecer com cada vez mais frequência e intensidade. E a tendência é que a situação na região amazônica piore, pois a expectativa é que no ano que vem o El Niño seja ainda mais forte”.

Em apenas uma semana, cerca de 10% dos botos do Lago Tefé morreram. Antes, a média de mortes era de uma ou duas por mês. A maior mortalidade tem sido de botos cor-de-rosa, pois esta espécie possui um sistema respiratório mais frágil. Das 155 carcaças registradas no local, 84,5% são de botos-cor-de-rosa e 15,5% são tucuxis. 

Além disso, os rios cheios auxiliam na alimentação destes animais. “Botos são perfeitamente adaptáveis ao movimento das águas na cheia, eles se deslocam com uma flexibilidade tremenda na floresta alagada para se alimentar. Mas, para a seca, eles não estão adaptados”, disse.

No entanto, segundo o líder do Grupo de Pesquisa em Geociências e Dinâmicas Ambientais na Amazônia do IDSM, Ayan Fleischmann, os botos pararam de se alimentar devido a um possível estresse térmico e perderam a capacidade de regular a temperatura corporal. Também em nota, o pesquisador afirmou que "se o aumento da pressão sanguínea for confirmado nos exames, teremos descoberto, da pior forma possível, o limite de temperatura que os botos suportam. Por isso, os próximos anos nos apavoram”.

A temperatura das águas da enseada de Papucu, localizada no Amazonas, bateu quase 41°C no dia 28 de setembro. A região contém uma vasta quantidade de peixes, o que atrai tanto os botos-cor-de-rosa quanto os tucuxis, de menor porte. 

“Assim como a temperatura do ar bate recordes, a hipótese é que agora a temperatura da água também tenha batido. Das medições que temos disponíveis, nunca havíamos chegado ao patamar atual na Amazônia”, disse Fleischmann. 

Predadores dos rios

Além de serem um indicativo da qualidade da água dos rios, os botos são fundamentais para manter o funcionamento do ecossistema. Estes golfinhos de água doce são predadores dentro do ambiente aquático e ajudam a manter o controle populacional de peixes e outros animais. 

Eles também servem de alimento para animais como onças e jacarés. Ainda assim, a espécie enfrenta uma grande diminuição de sua população. Segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional (IUCN), publicada em 2018, os botos tucuxis, assim como os cor-de-rosa, são ameaçados de extinção, porém não existe uma estimativa do tamanho total da população para toda a área de distribuição. 

Entre as ameaças mais comuns aos botos amazônicos estão a pesca, as usinas hidrelétricas e a poluição ambiental, causada por metais pesados.

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Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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Luana Neves
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