31.10.2023

Estudante de 16 anos cria plástico biodegradável de microalgas como alternativa a sacolas convencionais

Projeto desenvolvido pela estudante Katrina Javaisas Davis foi um dos vencedores da edição de 2023 do programa global para jovens promissores

Escrito por
Luana Neves
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Uma garota com óculos segurando uma plástico biodegradável vermelho.
Foto:
Acervo pessoal
A estudante Katrina Davis com o plástico feito de microalgas.

“O plástico contamina o ar, a comida e a água.” Foi essa a certeza que motivou a estudante Katrina Javaisas Davis, de 16 anos, a desenvolver um tipo de plástico composto por microalgas. 

Consequentemente, a inovação é mais sustentável do que a forma tradicional do material. E a descoberta já rendeu frutos: ela representa uma das propostas brasileiras vencedoras da edição de 2023 do programa Rise, iniciativa global destinada a jovens promissores, de 15 a 17 anos, que criam projetos para melhorar a qualidade de vida das pessoas. 

“O plástico não se decompõe na natureza. Ele se quebra em pedacinhos menores. Aí surgem os microplásticos, os nanoplásticos. O plástico contamina as pessoas em todos os sentidos possíveis”, alertou Katrina. 

Para dar vida ao projeto, a ativista utilizou a própria cozinha como laboratório. “Foi mais difícil, obviamente. Eu não tinha os equipamentos necessários”, disse. Em casa, sua mãe, Karin Javaisas, acompanhou todo o processo. “Ela teve que secar o bioplástico no sol, porque a gente não tinha secadora”, contou.

Para chegar ao resultado premiado, a jovem precisou de seis meses entre pesquisas e experimentos. De início, ela tentou conduzir o projeto com uma fórmula de amido de mandioca, mas os resultados não foram satisfatórios. 

“Os testes estavam dando certo, mas ainda tinham alguns errinhos. Não estava ficando do jeito que eu queria, como, por exemplo, ser maleável igual a um plástico convencional”, explicou. Segundo Katrina, o propósito é que esse material consiga ser semelhante às sacolas tradicionais e não cause impactos ambientais.

Ainda assim, ela ressalta que é preciso ter mais investimento para pesquisas com bioplásticos. A implementação desse novo estilo de produto acontece a passos lentos, pois o custo é elevado por estar em desenvolvimento e por ser usado em escala menor. 

“Quanto mais incentivos e produção a gente tiver, mais o custo desse tipo de plástico ficará próximo ao do plástico tradicional”, afirma. A solução verde pode ser a chave para reverter o consumo desenfreado do material, que chega a permanecer mais de 100 anos no meio ambiente, enquanto opções biodegradáveis podem se decompor em até 180 dias. 

Da teoria à prática

No dia a dia, a adolescente diz que evita utilizar plásticos de uso único e prefere cultivar hábitos sustentáveis. “A quantidade de plástico que a gente consome é muito grande e a quantidade que é reciclada é muito pequena”, disse. 

Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que, de todo o material produzido no mundo, menos de 10% é reciclado. Em razão disso, Katrina conta que decidiu usar o xampu em barra para gerar menos lixo e eliminou talheres e canudos de plástico da sua rotina. De acordo com a estudante, a questão da sustentabilidade sempre foi algo conversado dentro de casa com a sua mãe.

Administradora com pós-graduação em comércio exterior, Karin, mãe de Katrina, cresceu em uma chácara em Santana, na Zona Norte de São Paulo. Passou parte da vida em contato com a natureza e os animais, o que a levou a virar vegetariana há 15 anos. 

Katrina, que também é natural de São Paulo, segue os passos de preocupação com o meio ambiente. Além de adotar uma dieta alimentar semelhante, a menina é a fundadora da ONG Onda Sem Plástico. 

Criada em 2022, a associação juvenil independente acumula 5.000 seguidores no Instagram e é formada por jovens que têm o mesmo propósito: levar a consciência ambiental para outras pessoas e mostrar informações sobre alternativas sustentáveis para reduzir o consumo de plástico. 

“A internet tem muita desinformação e isso interfere na consciência ambiental das pessoas. Então, dentro do meu projeto, eu consegui criar uma comunidade feita por jovens para jovens e que fala sobre sustentabilidade”, explicou.

Plano futuro

Katrina começou a se interessar pelo tema quando estava no 9º ano do Ensino Fundamental, durante uma competição chamada Creativity Marathon, proposta por uma universidade dos Estados Unidos. 

Na ocasião, ela precisou apresentar um projeto em grupo sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A ideia de produzir um plástico biodegradável surgiu a partir dessa experiência. 

“Não ganhamos a competição na época, mas aprendi muito com a experiência. Um projeto que eu desenvolvi para aquela competição específica, eu acabei aplicando no meu projeto de bioplástico”, contou. Mas a pesquisa por materiais sustentáveis só começou mesmo quando abriram as inscrições do Programa Rise. 

A jovem diz que o programa vai oferecer apoio para que ela descubra o que quer fazer no futuro e que pretende desenvolver mais as habilidades estimuladas pelo programa. Apesar de não ter decidido qual será a futura graduação, ela sabe que quer seguir algo ligado às áreas de biologia, matemática ou engenharia. 

Seu segundo projeto de pesquisa está em desenvolvimento e, dessa vez, Katrina escolheu usar cogumelos como base para criar um plástico sustentável. “A partir das aulas de biologia, conheci os micélios, que são uma estrutura vegetativa dos cogumelos. E ele tem a quitina, que serve também como polímero natural”. 

Além disso, ela conta que esse mesmo material, por ser bem resistente, pode ser usado na construção de tijolos. Atualmente, a construção civil é uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa. Encontrar uma solução para esse problema ambiental é mais uma vitória para o meio ambiente e,  principalmente, para Katrina.

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escrito por
Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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Luana Neves
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