16.2.2024

Diversificação de lavouras no Cerrado pode contribuir com a preservação da fauna, diz estudo

Por outro lado, espécies invasoras, como o javali, prejudicam a manutenção de paisagens naturais

Escrito por
Luana Neves
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Um javali dentro de um rio marrom durante o dia olhando para cima
Foto:
Riley Bartel/ Unsplash
A quantidade de espécies invasoras, como os javalis, reduziu em 27% a paisagem mais heterogênea

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que diversificar o cultivo de espécies agrícolas pode ser a chave para salvar a vida selvagem e reduzir a presença de animais invasores. O estudo teve como foco o Cerrado paulista, localizado na região nordeste do estado de São Paulo.

Publicado no Journal of Applied Ecology, o artigo avaliou a presença de animais nativos e exóticos em 55 paisagens espalhadas por 200 hectares.

Durante a análise realizada entre 2017 e 2018, os pesquisadores recolheram os rastros deixados pelos mamíferos – pegadas, excrementos e outros sinais – e instalaram câmeras em áreas de vegetação nativa.

“A composição dessas paisagens era mais ou menos heterogênea, com mistura de vegetação nativa, monocultura e culturas diversas. Procuramos correlações entre o grau de heterogeneidade e a presença ou ausência de mamíferos nativos e exóticos”, explicou uma das autoras da pesquisa e doutoranda no Instituto de Biociências (IB-USP), Marcella do Carmo Pônzio.

Segundo o estudo, a diversidade de culturas na paisagem é responsável por 80% na influência das áreas de Cerrado sobre o número de espécies nativas do local, como a puma e o tatu-canastra. Enquanto isso, em paisagens mais heterogêneas, a quantidade de espécies invasoras, como os javalis, reduziu em 27%.

“Embora espécies mais sensíveis, como a onça-pintada, tenham desaparecido, uma maior complexidade da paisagem pode significar mais mamíferos pertencentes a espécies nativas. Já em áreas de monocultura, com pouca vegetação nativa, predominam os javalis”, avaliou Pônzio. 

Além de serem classificados como pragas, esses mamíferos, transportados para o Brasil, expulsam espécies nativas dos seus habitats e acabam com a vegetação local. O cão doméstico e a lebre-europeia também são consideradas espécies danosas para o meio ambiente.

Os resultados, no entanto, também tiveram seu lado positivo. Segundo uma das autoras do artigo, a professora do IB-USP e orientadora da tese de doutorado de Ponzio, Renata Pardini, os políticos não devem concentrar a atenção apenas no desmatamento, mas também no combate às áreas agrícolas menos diversas.

“Precisamos nos preocupar com o que é feito em áreas que já foram Cerrado”, afirmou ela.

Isso é importante para entender como as atividades rurais podem levar em consideração a conservação da biodiversidade. Além disso, aumentar a diversidade de produtos agrícolas nas lavouras pode aumentar a resiliência às condições climáticas e diminuir a dependência de pesticidas, tornando as práticas no campo ainda mais sustentáveis e adequadas às necessidades do meio ambiente.

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Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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