20.11.2023

Com Taylor Swift, efeitos do calor extremo se tornam preocupação nacional

No Rio de Janeiro, sensação térmica chegou a 60ºC e, pela primeira vez, o aumento da temperatura média do planeta ficou acima de 2ºC

Escrito por
Luana Neves
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Álbum de Taylor Swift
Foto:
Raphael Lovaski/ Unsplash

Os ponteiros do relógio se aproximavam do horário marcado no domingo, 19, para o encontro do público de mais de 60.000 pessoas com Taylor Swift no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro. A expectativa para o segundo show da The Eras Tour no Brasil era imensa. 

Contudo, ao contrário dos sonhos de jovens e adolescentes, a ansiedade ficou amarga com a morte de uma fã na estreia da passagem de Taylor pelo Brasil e com o adiamento do que seria a segunda apresentação, no sábado, devido ao calor extremo na capital carioca. 

Os fãs, colados uns aos outros, se amontoavam próximos às grades para ter a melhor vista possível da estrela do pop. Mesmo sob a chuva que cortou os efeitos das altas temperaturas, a preocupação no rosto de cada um era nítida: as pessoas estavam com medo dos efeitos do calor extremo. 

Recordes de temperatura

Na sexta-feira, 17, data que marcou o início da turnê no Brasil, os termômetros do Rio de Janeiro registraram máximas de 40ºC com sensação térmica de 59,3ºC pela manhã. Não foi um efeito isolado – naquela data, o aumento da temperatura média do planeta ficou acima de 2ºC pela primeira vez na história.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o calor mata cerca de 15 milhões de pessoas por ano. Como efeito do aquecimento global somado a um El Niño, 2023 caminha para ser o ano mais quente da história. 

O dia sem trégua do Sol no Rio de Janeiro acabou em tragédia após a confirmação da morte da estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, que sofreu uma parada cardiorrespiratória – a causa da morte ainda não foi confirmada, mas suspeita-se que o calor extremo tenha sobrecarrecado o organismo da jovem. 

O episódio fez com que muitos fãs fossem às redes sociais reclamar da organização do evento, como a proibição de entrada com garrafas d’água e a instalação de tapumes que interferiram na circulação de ar no estádio. 

Segundo o Corpo de Bombeiros, cerca de mil fãs desmaiaram durante o espetáculo de abertura da turnê – que pode se tornar a mais lucrativa da história – por conta das altas temperaturas. Ainda de acordo com a brigada, pessoas com quadro de vômitos por desidratação também foram socorridas.

Ao receber a notícia sobre o falecimento de sua fã, Taylor publicou um comunicado nas redes sociais: “não acredito que estou escrevendo essas palavras, mas é com o coração partido que digo que perdemos uma fã hoje à noite antes do meu show. Eu não consigo nem dizer para vocês o quão devastada estou por causa disso. Eu tenho poucas informações, além do fato de que ela era incrivelmente bonita e tão nova”.

O sábado foi marcado por acusações e incertezas: a poucas horas do início da apresentação, com grande parte do público dentro do Engenhão, a cantora decidiu adiar o show devido à onda de calor. 

Naquele dia, a cidade registrou recorde de temperatura com quase 42ºC pela manhã e sensação térmica de 60ºC. Com a mobilização de diversos setores da sociedade, incluindo o ministro da Justiça, Flávio Dino, a empresa Time For Fun (T4F), responsável pela organização, foi obrigada a mudar as condições do evento. A entrada com garrafinhas de água lacradas e alimentos industrializados foi liberada e o número de ambulâncias e profissionais de saúde de prontidão também aumentou. 

Redução de danos

No domingo, 19, com a entrada de uma frente fria, as temperaturas diminuíram e a chuva apareceu. Ainda assim, a mudança no tempo não foi suficiente para apagar a tensão dos dias anteriores. 

Dentro do estádio, as pessoas davam espaço umas às outras para evitar que o ambiente ficasse muito abafado. Além disso, a imposição da justiça surtiu efeito: fãs carregavam suas garrafas de água e comida dentro das bolsas. 

A todo momento, os funcionários do estádio ofereciam copos de água mineral gratuitos para aqueles que estavam presos em meio à multidão e sem espaço para se locomover. Em comparação com a sexta-feira, foi uma mudança e tanto: na noite de estreia, a própria Taylor parou o show para distribuir água para os fãs.

Mesmo com a mudança no tempo, as condições do evento lotado fizeram com que o espaço continuasse quente. Familiares que acompanharam os filhos no show não conseguiram se manter em pé durante a apresentação por conta da pouca ventilação no estádio e do calor. 

Antes da apresentação, fãs pediram nas redes sociais para que a artista retirasse os efeitos de fogo devido ao calor, e ela atendeu ao pedido. Por outro lado, a expectativa por uma homenagem explícita à fã que faleceu foi frustrada, pois Taylor não fez nenhuma menção a Ana Clara Benevides.

O sufoco acompanhou o público até o final do evento. Uma fila imensa dava a volta nas rampas de acesso ao transporte público e a entrada principal ficou bloqueada temporariamente por seguranças. Por conta disso, algumas pessoas passaram a reclamar do calor, de novo, e o empurra-empurra começou. Outras falavam para seus amigos e familiares respirarem fundo e olharem para cima, a fim de evitar desmaios na multidão. 

Com a passagem de uma das maiores estrelas pop da atualidade pelo Rio de Janeiro, o calor extremo, erroneamente tratado como apenas um desconforto, ganhou a evidência necessária para mostrar o quanto pode ser letal.  

O clima do planeta não é mais o mesmo e fenômenos climáticos vão ter efeitos cada vez mais devastadores para a população. No Rio de Janeiro, o preparo para enfrentar condições extremas foi feito depois de uma tragédia. 

É preciso que a sociedade – representantes públicos e lideranças do setor privado, principalmente – entenda a importância da adaptação à mudança do clima para que medidas sejam tomadas antes das piores consequências.

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escrito por
Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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Luana Neves
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