8.1.2024

Rio de Janeiro compra "drones semeadores" para enfrentar ondas de calor

A ação faz parte do planejamento da prefeitura para preparar a cidade para a crise climática

Escrito por
Luana Neves
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Dois homens preparam um drone semeador em uma área com vista para o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro
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Morfo/ Divulgação
Drone semeador será utilizado para recuperar áreas verdes na capital carioca

Nos próximos meses, os cariocas podem esperar altas temperaturas que irão se concentrar na região. O verão de 2023 promete ser um dos mais quentes da história do Rio. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as temperaturas permanecerão acima da média histórica em todas as regiões do país.

Em novembro, a prefeitura lançou uma série de medidas para ajudar a conter o impacto das ondas de calor na cidade, como a compra de “drones semeadores” que vão ser uma importante ferramenta para reflorestar a região. A ação é uma parceria entre a startup francesa Morfo e a Prefeitura do Rio de Janeiro e será levada para várias partes da cidade a partir do mês de janeiro. 

“Em um momento em que as temperaturas vêm batendo recordes na cidade, cada árvore conta e as áreas verdes são uma das medidas mais eficazes para combater o efeito das ondas de calor, além de controlar erosões, reduzir deslizamentos e fornecer sombra”, explica a secretária de Meio Ambiente e Clima, Tainá de Paula.

A cidade está inserida, essencialmente, na Mata Atlântica. Contudo, no Brasil como um todo, resta apenas 12% da floresta original, de acordo com dados da SOS Mata Atlântica. Segundo o CEO no Brasil da Morfo, Grégory Maitre, a escolha pela cidade também se deu pelo interesse em auxiliar no processo de reflorestamento do bioma.

“Começamos no Brasil nos especializando na Mata Atlântica e no bioma amazônico, os dois focos iniciais da nossa operação. Estes são os dois principais biomas que trabalhamos hoje”, afirmou Maitre. 

A ideia é que a nova tecnologia acelere o processo de reflorestamento da cidade. O drone consegue cobrir uma grande extensão de terra em um curto intervalo de tempo quando comparado com uma pessoa. Enquanto um equipamento semeia 50 hectares por dia, um agente de reflorestamento faz, no mesmo período, apenas um. 

“O processo acelera muito a nossa capacidade de reflorestamento, mas ele não substitui a natureza. Entre dois a cinco anos vamos sentir uma diminuição da sensação térmica nas áreas novas vegetadas”, afirmou a secretária durante o evento de teste do drone semeador, realizado no dia 05.

Como a nova tecnologia irá funcionar 

A primeira análise é feita através de imagens de satélite, que fazem um estudo do solo indicando quais espécies são mais adequadas para o plantio.

Em seguida, são selecionadas 20 espécies nativas com mais chances de sucesso para aquele solo em diferentes estágios da sucessão ecológica, como plantas rasteiras, arbustos e árvores.

A terceira etapa consiste na dispersão das sementes encapsuladas e in natura de acordo com o plano.

Por fim, após as sementes serem colocadas no solo, é feito um monitoramento, com imagens de satélite e drones, que usa inteligência artificial para estudar a evolução da cobertura vegetal e da biodiversidade. Essa avaliação também permite a rápida solução para eventuais imprevistos, como eventos climáticos adversos ou o surgimento de espécies invasoras.

Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC), a prefeitura investiu R$ 600 mil na compra de dois 'drones-semeadores' que devem ajudar a reflorestar bairros da Zona Norte e Oeste. Os equipamentos têm capacidade de semear áreas de até 50 hectares.

Altas temperaturas podem ser nocivas

A preocupação do município com o calor tem sido crescente desde novembro. Em áreas menos arborizadas, como a Zona Norte e o Centro, as temperaturas atingiram marcas históricas, como os 42,5°C em Irajá, na Zona Norte.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a cada duas horas uma pessoa precisou de atendimento médico durante um dos finais de semanas do mês, considerado o mais quente da história. Sintomas como tontura, dor de cabeça e até desmaios tornaram-se frequentes.

Essa tendência pode ser um problema durante o período de carnaval da cidade. Segundo o presidente da Riotur, Ronnie Costa, são esperadas 5 milhões de pessoas nos blocos de rua. As aglomerações durante as festas, a falta de hidratação e a exposição excessiva ao calor podem levar a casos graves de desidratação e queimaduras. 

Mudanças anunciadas no Plano Verão

Pensando nisso, a prefeitura anunciou o Plano Verão, que contém uma série de medidas para ajudar com os impactos causados pelas altas temperaturas. Além da nova tecnologia, o município contará com 150 ilhas de hidratação, distribuição de água potável, chinelo e protetor solar para pessoas em situação de rua e o uso de bermudas na altura do joelho para os servidores municipais, motoristas de táxis e ônibus. A medida será válida até março de 2024.

A iniciativa de aumentar o terreno verde no Rio pode ser um exemplo para outras grandes cidades que contam com problemas para combater as ondas de calor que se instauraram nos últimos anos. Atualmente, já se fala em um aquecimento de 2°C acima dos níveis pré-industriais em diferentes regiões do mundo, colocando as populações em risco e tornando ações como essas ainda mais urgentes e necessárias para o meio ambiente. 

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Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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Luana Neves
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