8.11.2023

Poluída há décadas, plano para limpar a Baía de Guanabara pode melhorar a vida de 8 milhões de habitantes

Empresa responsável pelo saneamento da região promete despoluir a Baía de Guanabara até 2033 -- compromisso é mais um entre várias tentativas de recuperar a região

Escrito por
Luana Neves
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Imagem de uma cidade com uma montanha ao fundo.
Foto:
Bruna Prado/ MTUR
Vista aérea da cidade do Rio de Janeiro.

A Baía de Guanabara, um dos braços de mar do Oceano Atlântico e símbolo histórico e cultural do Rio de Janeiro, passa por uma intensa poluição de suas águas desde a segunda metade do século XX. 

Agora, ela está voltando, aos poucos, a registrar águas mais limpas. O resultado é fruto da despoluição promovida por uma intervenção que prevê tratamento de até 90% da rede de água e esgoto. Atualmente, apenas 35% da rede recebe tratamento adequado.

O custo total da obra vai ser de 24 bilhões de reais e pretende recuperar toda a região até 2033. Nos próximos cinco anos, uma solução temporária será feita para impedir o aumento da poluição no ambiente marinho. 

Nova tentativa

A empresa Águas do Rio, que venceu a licitação em 2021, planeja fazer cinturões, com pelo menos 30 quilômetros de extensão, ao redor da baía para bloquear o derramamento constante de esgoto no rio, com o investimento estimado de 2,7 bilhões de reais nessa etapa. O projeto prevê que, em dias sem chuva, 18 mil litros de esgoto sem tratamento deixem de entrar nas águas cariocas a cada segundo. 

Segundo o diretor-superintendente da Águas do Rio, Sinval Andrade, dados de 2021 indicam que cerca de 45% da população do estado do Rio de Janeiro não têm acesso à coleta de esgoto. "Destes que são coletados, apenas metade é tratado. Portanto, esse quadro histórico de falta de saneamento faz com que o esgoto sanitário chegue na Baía de Guanabara”, avalia. 

De acordo com dados do Sistema Nacional de Informação (SNIS), o acesso ao tratamento de esgoto, em 2021, englobava cerca de 68% de toda a população do Estado.

“Existem medidas de curto prazo que foram feitas pela Águas do Rio nesses dois anos de concessão, como a desobstrução de redes coletoras, a recuperação de sistemas e a reforma de Estações de Tratamento de Esgoto”, revela o diretor.

A melhora da qualidade da água pode ser observada com as estratégias adotadas pela companhia. Um relatório feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) mostrou que algumas praias estão próprias para banho. Uma delas é a do Flamengo, que passou por uma longa sequência de liberação em 2023. 

Para chegar em níveis adequados de balneabilidade, a empresa teve que desviar a fonte da baía poluída que desaguava na praia do Flamengo e alterar o caminho para o emissário submarino de Ipanema. 

“A transferência da carga de esgoto para o emissário foi a solução encontrada, sem maiores impactos para um trecho do litoral que já recebia esse tipo de carga”, pondera o biólogo Mario Moscatelli.

Saúde e qualidade de vida

No final de 2022, o Rio teve uma notícia boa do resultado da despoluição. A empresa havia finalizado a implementação do sistema de esgoto na ilha de Paquetá, perto da cidade. A região teve pela primeira vez, no ano passado, uma praia própria para banho, algo que não acontecia desde 2016. 

Além das águas ficarem mais limpas, o projeto trará benefícios para moradores do entorno, que sofrem diariamente com a situação de degradação ambiental. 

Para a coordenadora geral da Associação dos Moradores da Vila Residencial, Glaucia Souza, o mau cheiro e a falta de conscientização são os maiores problemas derivados da poluição da baía. “A maioria dos resíduos que são encontrados é devido ao descarte incorreto. Com isso, a mortalidade dos peixes aumentou muito”, afirma. 

Ainda assim, segundo ela, a despoluição é necessária para limpar o local de onde os pescadores tiram o sustento. Atualmente, mais de 8 milhões de pessoas vivem em áreas em torno da região e 3.700 pescadores tiram sustento de suas águas. 

Um estudo do Instituto Trata Brasil mostrou que o saneamento, nos próximos 35 anos, vai gerar um ganho líquido para a população de 37 bilhões de reais, com melhoria da saúde, valorização imobiliária e aumento do turismo.

“Onde houve ou ainda há esgoto e lixo, poderá haver ecoturismo, pesca esportiva, pesca comercial, lazer, esportes náuticos e por aí vai, como acontece em inúmeras partes do mundo”, indica Mario.

Mesmo diante de tantos benefícios, o projeto de despoluição foi colocado em prática algumas vezes, mas nunca chegou a ser concluído. Desde a década de 90, mais de 10 bilhões de reais foram investidos em programas de despoluição. Em uma das tentativas recentes, o governo prometeu tratar 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara até a realização das Olimpíadas, algo que não chegou a acontecer.

Apesar das desconfianças quanto ao projeto, um grande passo foi dado. Reverter a situação de degradação ambiental dos oceanos é urgente. Por isso, é preciso que a iniciativa de despoluição cumpra com as suas metas dentro do planejado e que a sociedade civil se conscientize da importância dos rios para impedir que esta não se torne outra promessa perdida.

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Luana Neves
Luana Neves
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto
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Luana Neves
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