3.10.2023

Carne de laboratório: o que é e como é feito o alimento que deve chegar no Brasil nos próximos anos

Positiva para o meio ambiente, a produção de carne cultivada foi autorizada em outros países

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Sabrina Brito
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Imagem de uma tigela de carne crua.
Foto:
Usman Yousaf/ Unsplash

Em 2050, a população mundial deve chegar a 9,8 bilhões de habitantes, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial. O incremento populacional, aliado ao aumento na renda, levará a um crescimento de 88% na demanda de proteína necessária para alimentar o planeta.

Com essa perspectiva em vista, a indústria alimentícia teve de recorrer a novos recursos para suprir a demanda. A queridinha da vez é a carne de laboratório, proteína produzida dentro de ambientes controlados e rica em nutrientes.

Também chamada de carne cultivada ou de cultura, a produção consiste em coletar células animais – seja de seres vivos ou recentemente abatidos ou mesmo de óvulos fertilizados – e colocá-las em meios de cultura, onde poderão se multiplicar livremente. Assim, a carne é cultivada fora do organismo do animal, muito embora seja feita a partir dele.

Entre as vantagens desse método estão a diminuição do sofrimento animal e a queda na necessidade de criar milhões de cabeças de gado, que emitem gases de efeito estufa e contribuem para o aquecimento global. Além disso, menos áreas de vegetação precisarão ser dedicadas exclusivamente à pastagem, abrindo espaço para a preservação ambiental.

Apenas em 2022, foram investidos 896 milhões de dólares no cultivo de carne em diferentes países. Desde 2016, foram 1,9 bilhões de dólares em recursos, conforme apontam dados da ONG The Good Food Institute.

O mundo parece estar caminhando em direção à popularização da carne de laboratório. No mês de junho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos chancelou a produção e a venda da carne de frango produzida por duas empresas. A decisão fez do país o segundo do mundo a legalizar a carne cultivada, atrás apenas de Cingapura.

No Brasil, a expectativa é de que a proteína comece a ser vendida aos poucos a partir do ano que vem. A brasileira JBS, por exemplo, começou a construir em Santa Catarina o primeiro centro de inovação e pesquisa focado no desenvolvimento da carne de cultura no país. A previsão é que o centro será inaugurado no fim de 2024. De acordo com a empresa, o local contará com uma equipe de 25 pós-doutores e especialistas.

A substituição do método tradicional de produzir carne tem também levantado polêmicas pelo Brasil, que figura há tempos entre os maiores exportadores de proteína animal do mundo. O receio dos efeitos negativos da troca da proteína comum pela cultivada tem levado a iniciativas até no âmbito político.

O deputado federal Tião Medeiros (Progressistas-PR), membro da bancada ruralista, sugeriu a proibição da carne feita em laboratório com o objetivo de impedir a "pesquisa privada, produção, reprodução, importação, exportação, transporte e comercialização".

Segundo Medeiros, trata-se de uma ameaça à cultura e identidade nacionais, uma vez que a carne cultivada poderia pôr em perigo a “rica tapeçaria cultural de norte a sul".

Assim como na maioria dos assuntos que envolvem mudanças na sociedade, a questão da carne produzida em laboratório possui várias facetas. Se, por um lado, ela pode ser uma solução sustentável para alimentar a população, por outro, ela pode ter impactos negativos para alguns negócios consolidados.

De toda forma, a inovação costuma dar passos mais ousados do que o ritmo habitual da sociedade. Diante dos efeitos cada vez mais impressionantes da mudança do clima, é bom que as soluções cheguem cada vez mais rápido e, talvez, com mais sabor.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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